Caro blog: Eu poderia
omitir este episódio. Porém, o Xico foi crucial no desenvolvimento da história,
neste e em muitos outros factos que, propositadamente, omitirei.
…Continuando
«
Modéstia à parte, nesse
então eu tinha uma memória fotográfica e uma capacidade de descrição que bem justificavam
a minha vontade de ser jornalista da rádio.
Em abono da
verdade, não foi uma coisa assim tão simples. Em primeiro lugar, imaginei que o
Xico estivesse a galhofar comigo, o que era normal entre nós. Em segundo lugar,
eu achava que também conhecia todas as pessoas com quem ele se
relacionava (socialmente e não só, porque não havia segredos entre nós) e,
sobretudo, todas as “suas conquistas”.
Contudo, o Xico foi
rotundo e directo: «Essa miúda que tu descreveste é a Isabel,
tenho a mais absoluta certeza!»
Ante a minha
incredulidade, ele foi ainda mais convincente: «Sei bem onde ela mora,
não é muito longe, conheço a sua família e já passei umas boas tardes com ela…
é uma miúda espectacular… mas para eu ser da altura dela necessitava usar um
tijolo!...»
Então,
tentei convencê-lo a falar tudo o que sabia sobre ela. Porém, ele, cauteloso e
para evitar a separação do grupinho e perturbar a agenda desse dia, recusou-se
a entrar em pormenores.
Claro que eu não cabia
em mim de alegria, mas ficava-me o receio da desilusão. E se não fosse ela!?...
Desafiei o Xico a irmos,
sem mais delongas, ao encontro dela. Só que, infelizmente, nesse dia tínhamos
um compromisso que, para os restantes membros do grupo, era inadiável e muito
mais tentador. Para mim, procurar “a divinal e electrizante miúda” era o mais
importante da vida. Estávamos num insanável conflito de interesses. Quase se
gerava uma quezília séria e grave entre nós.
Como resultado da
discórdia que se criou, decidi não acompanhar o grupinho nesse dia. Essa foi
(apenas) a primeira complicação, a primeira alteração da minha vida, por causa
dessa “diva” que, na realidade eu nem conhecia e tão-pouco tinha a certeza se
era a pessoa de quem o Xico falava.
Eles partiram para a
festa, como estava calendarizado. Eu, possesso e inflamado, quase a explodir de
nervos, mas a tremer de emoção, regressei a casa.
Foi uma tarde longa e difícil.
Sentia uma estranha secura na boca, uma sensação esquisita de calor que me percorria
o tórax no sentido ascendente, o diafragma parecia ter perdido elasticidade, o cérebro
parecia ter dilatado e provocava zumbidos nos ouvidos e palpitações nos olhos…
Não estava bem sentado, nem deitado, nem em pé; se me levantava senti vontade
de me sentar, mal m sentava via-me impelido a levantar-me e com vontade de ir,
sem destino até encontrar essa divinal musa.
Custou-me aguentar a
tarde toda em casa. Eu não podia esperar… necessitava saber mais coisas sobre a
minha “diva”.
Vi-me possuído por uma
ansiedade insuportável, por uma necessidade incontrolável de fazer algo que
aliviasse a comoção desesperante que me acometia o peito.
Tentei dormir mas não
consegui. Tudo me parecia irritante, doloroso e fora do seu lugar… Assim passei
essa infindável tarde de domingo, esperando que anoitecesse. Ao cair da tarde
fui colocar-me de sentinela à entrada da casa do Xico. Decididamente, não
sairia de lá sem saber tudo sobre a minha “diva”, nem que para tal tivesse de
esperar toda a noite.
Lá fiquei, tempo infindo
e num estado em que cada minuto parecia estender-se por várias horas, até que,
finalmente, o Xico surgiu ao alcance da vista.
»
…/…
A paixão é realmente um estado de alma muito complicado!
ResponderEliminarBom Julho :)
Bom Julho (e que traga descanso)!
EliminarChama-se a isso perseverança.
ResponderEliminarResto de boa semana. :)
Obrigado, igualmente para si.
ResponderEliminarAs tantas parece uma doenca obsessiva, nao é?
ResponderEliminarSem dúvida!
ResponderEliminarAcho que me entende.