Meu caro blog:
Estás em tempo de ventura: recebeste mais uma visita. Olha,
ao ler o comentário emocionei-me, juro. Custa-me a crer que alguém tenha tanta
bondade e desprendimento para ler o que eu escrevo. Sobretudo porque escrevo o
que sinto e o que sou, mas não passo de um amontado de sucata, sem valor e quase
não sei escrever.
Recordas-te, blog amigo, que deixei esta pergunta no ar: “Se eu fosse omnipotente o que alteraria na
minha vida?”
A resposta é: Depende!
Entre nós os dois, meu caro blogue, posso ser objectivo e
cristalino. Nada do que disser está contaminado de hipocrisia e de “socialmente
correcto”. Assim, vou dividir a minha resposta em duas:
1 – Mudar a vida que
tenho - alterar a minha vida hoje, mantendo tudo e reconfigurando as peças do
meu xadrez de vida?
2 – Ter o poder de
mudar a minha história de vida - regressar ao tempo da minha juventude e alterar
o curso da minha vida?
No primeiro caso (e hoje tratarei desta parte, apenas), não
haveria muitas mudanças - seria contraproducente e já é demasiado tarde para modificações.
Sinto-me desagastado pelo tempo e pelos contratempos, ora
corroído pelas agruras que degradam e consomem, ora moldado pelas circunstâncias,
acomodei a minha existência àquilo que a condiciona e enforma. Além disso, para
o bem ou para o mal, sou peça de uma engrenagem cujo funcionamento condiciona
outras pessoas, outras vidas, que não tenho o direito de arruinar.
Não! Por nada deixaria a minha consorte ou destruiria a
minha família. Nunca e a troco de nada. Seria uma ingratidão e uma estupidez
fazê-lo. Acho isso execrável e patético.
Aqui tive o meu suporte, a minha âncora, a bóia de salvação.
Não teria coragem de fazer perigar este porto de abrigo, de cumplicidades, de
cooperação e de entreajuda.
Nada, pode ressarcir ou pagar esta caminhada em conjunto:
tanto o auxílio para levantar nas quedas, como uma taça pronta para celebrar os
êxitos.
Não estou a saldar uma dívida, mas sim a partilhar, de pleno
direito, de uma fortuna incalculável, a reconhecer a impossibilidade de avaliar
algo que não tem preço. Não sou apenas grato, faço parte dessa gratidão.
A minha vida não foi aquilo que eu queria que fosse. Sonhei
ter uma vida diferente, calcorrear outros caminhos, ter uma existência bem mais
repleta a prazerosa… quis o destino que assim não fosse!
Nunca traí a minha consorte e não vou fazê-lo. É, para mim,
uma questão de carácter, de honra e honestidade. Assumi um compromisso, terei
de mantê-lo. Não importa o que possam pensar. Mesmo que todo o mundo me condene,
aquilo que eu tenho por sagrado e incontestável não está sujeito a arbitragem –
é para manter, seja a que preço for e, sobre isso, não há discussão.
Então, o que mudaria?
- A minha profissão - que eu escolhi, mas hoje acho completamente
estúpida e ultrapassada, chegando mesmo a subverter o meu sistema de valores.
- A minha morada - gostava de viver numa terra diferente, em
circunstâncias diferentes e retirar do círculo de proximidades algumas pessoas
que infestam e molestam.
- Reformava-me já.
No resto, pela estabilidade que sinto pode dizer-se que, à
minha maneira, sou feliz.
Bom, mas se disser que há uma “divinal princesa” que não
consigo retirar da minha mente, e que mistura a sua existência com uma
realidade modelada em sofrimento, lágrimas e desassossegos! Então, em que
ficamos?
Sim, essa “princesa/musa” faz parte da minha existência de
forma etérea, intrínseca e incontrolável. Já me dominava antes de conhecer a
minha consorte (aliás, é a causa de nos termos cruzado um dia).
Eu não consigo esquecê-la e a sua imagem preenche uma parte
vital de mim. Apesar de tudo isso, hoje eu não quero nada, absolutamente nada,
dela. Tal como eu prezo e encimo a minha vida com a minha família, desejo que
ela faça o mesmo. Nada me poderá deixar mais preenchido do que saber que ela está
bem e é feliz.
Parece um paradoxo, contudo esta é a realidade.
O que mudaria, neste aspecto?
Gostava de limpá-la da minha mente.
Sei que nunca conseguirei. Talvez um dia, vendo-a
pessoalmente, eu consiga desvanecer a imagem celestial que tenho dela.
Sim, isso eu mudaria. Mas, por outro lado…
Gostava que ela regressasse a Portugal definitivamente.
Gostava de vê-la, de poder deliciar os meus olhos com a mais deleitosa e divinal imagem
que alguma vez conheci... Gostava de ouvir a sua voz (atormenta-me não recordar
o timbre da sua voz).
Porém, nunca e em nenhuma circunstância, aproximar-me dela.
Sim, gostava que ela soubesse que há um demente que convive neste
“aprazível tormento” com ela, no entanto, de forma alguma que ela soubesse quem
eu sou (isso nunca!). Ou seja, que ela conhecesse esta história de vida mas não o seu autor.
Na verdade, gostava de fazer parte do seu círculo de amigos, como uma pessoa inocentemente normal.
Perdoa-me caro blog!... Estou cada vez mais chato, indigesto, importunador e a exceder-me em texto…
Como podemos mudar o que está atrás, se atrás, não sabíamos o que sabemos hoje?
ResponderEliminarPassei, também, para lhe agradecer ter-se dirigido no meu canto. Será sempre bem vindo!
Bom Domingo e continue.
A minha pergunta é exactamente nesse aspecto - se eu fosse omnipotente.
EliminarGostei imenso do seu blog.
Não me compreenda mal... sou mesmo assim.
SSS - sorte, saúde e sucesso.
Muito obrigado pela sua visita-
Como poderia interpretá-lo mal? Não há razão para tal!
EliminarNão só não interpreto mal, como agradeço as suas palavras.
E, sem querer intrometer-me, deixo um desafio-pedido-sugestão... devolva o seu anterior blogue ao lugar dele. Aqui, a este meio.
Bom fim de semana.
Algo me incomoda neste seu texto. Sei que é muito pessoal e louvo-lhe a coragem de ser autentico. Acho lindo e entendo aquilo que disse sobre a sua esposa. Mas traição também se dá emocionalmente. Aliás, é aí que está a verdadeira traição. Amar outra pessoa. Ou amar outra alem de se amar a que se tem. Se deseja fazer parte do circulo de amizades de uma, e porque precisa do afecto dela e de lhe dar o afecto que por ela nutre. Em amizade. Mas quem diz que o amor de uma amizade também nao pode agredir um amor? São amores... é onde dói. Há mulheres que sao traidas mas so se sentem magoadas de morte se existir amor pela outra pessoa. Nao trair mas amar outra... A mulher sabe. Sente essas coisas. Tem é uma capacidade para interpretar e levar as coisas que é fantástica.
ResponderEliminarUm abraco
Muito obrigado pela sua passagem por este pobre blog.
EliminarDe vez em quando passo pelos seus blogs e surpreende-me o facto de concordar com muita coisa (até acerca dos italianos!).
Quanto ao seu comentário: compreendo bem o que diz e, creia-me, quantas vezes já dei por mim a pensar o mesmo, sentindo um peso na consciência, um remorso atroz. Não espero que você compreenda, mas a situação é muito diferente daquilo que possa imaginar, extremamente complexa e involuntária. Tenho feito de tudo para superar isto, incluindo este blog que tinha por objectivo servir como escape (quase um exorcismo).
Não imagina o que é acordar a sonhar com uma pessoa, três ou quatro dias seguidos, como se estivesse a ver uma série – não sou eu que quero.
Não me sinto um traidor porque é algo que eu não consigo controlar e, além disso, tenho a certeza absoluta que em circunstância alguma iria além disto (tenho absoluta certeza).
Já expliquei aqui, neste blog, que a proximidade (e não tenho proximidade, não a vejo há mais de 35 anos) com ela ajuda-me a esquecer - serve de terapia – quando mais ausente pior (embora nunca tenha experimentado a sensação, creio que é tipo: “ressaca” – síndrome de privação). Eliminei toda a história neste blog porque as coisas melhoraram muito, mas… parece que tenho de repetir.
Ah, falta dizer que a minha consorte sabe que há uma pessoa que eu nunca consegui esquecer e que foi por causa dela que nos cruzamos um dia (felizmente). Só não sabe quem é. No entanto, ela sabe que pode confiar em mim. Mesmo assim, se ela acedesse a este blog, temo que o resultado fosse… demolidor!
EU sou um pouco exoterica nesta coisas. Nao querera a outra pessoa querer falar consigo e por isso quando voce esta a dormir é quando esse "chamamento" faz a ligacao?
EliminarPode acontecer de ela estar a passar por um grave problema de saude e estar com a hora marcada.... lembrar-se dela regularmente e a forma que o cosmos lhe faz saber que tem de a contactar.
Mas isto e o meu lado exoterico, que ja teve provas disso a falar.
Olhe, se me leu recentemente sabe que estou a passar pelas dores de uma paixonite. 24 h no meu pensamento e no meu sentir. Se quer esquecer, recomendo que ore. Sei que e catolico praticante. EU nao sou.
Mas de ambas as vezes que "falei" nao com Deus, mas com quem me quis bem e ja esta do outro lado, subitamente aquele sentimento devastador, intenso, deu lugar a tranquilidade. Quase esquecimento. É nessa fase que estou ainda, apos a Reza no sabado passado.
Ja experimentou pedir "ajuda" a alguem querido que ja nao esta entre nos? Experimente.
Boa sorte e...
Nao se menospreze.
Caríssima:
EliminarSim, sou católico, praticante e até religiosamente conservador - por exemplo, em termos doutrinais (catequéticos e teológicos) discordo, em muitos aspectos, do actual Papa.
Quanto à "ajuda" de que fala, pode crer que, se eu lhe contasse algumas peripécias reais que se têm passado comigo (até nesta história da "diva Isabel") teria muita dificuldade em acreditar. Também cheguei a pensar nessa “conexão” como um apelo, mas hoje sei que não se trata de nada disso.
Julgo que ainda tenho um backup de tudo o que tinha neste blog. Se tiver, aqui ou num novo blog reeditarei a “minha história de vida”. Se tiver pachorra, vagar e a longanimidade suficiente, verá que é uma história tão patética como este protagonista.
Muito OBRIGADO pelas suas visitas e pelos seus comentários (são terapêuticos e reconfortantes).