Caro Blog, reafirmo:
move-me aqui o sentido de ser rigoroso e fiel na narrativa e nada preocupado
com questões de riqueza, estética ou qualidade literária.
... Continuando ...
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Fiquei, na minha paupérrima exposição (isto parece uma redacção da escola
primária) no final da noite desse assombroso dia de Verão e... citando o Livro
dos Genesis: “Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o primeiro dia.”
…
Vencido pelo cansaço,
acabei por adormecer já perto do romper da aurora.
Despertei, poucas horas
volvidas, na manhã seguinte (- era o segundo dia -), com uma sensação
estranhíssima de pequenez e inferioridade. Eu era o ente mais desprezível,
inútil, rude, ignaro e miserável do universo. Em abono da verdade, creio que
desse depreciativo julgamento e dessa medíocre impressão jamais me separei, ou
seja, ainda hoje, quando me auto-avalio, não vou muito além dessa classificação
(mas esse assunto não é aqui chamado à colação).
Mal despertei, retomei o
meu raciocínio lógico (se algo pode existir de lógico que possa ser invocado em
toda esta história) sobre a quase-celestial figura. Fiquei-me, depois de
acordar, por uma terceira hipótese: a miúda podia estar de passagem, podia
viver longe… quiçá fosse um mero golpe do acaso o facto de ela ter passado pela
minha terra!
Penitenciava-me pelo
delito imperdoável de nada saber sobre ela. Afinal a culpa era exclusivamente
minha: eu podia ter reagido de outra forma; talvez segui-la… ou então, porque
não, arranjar uma desculpa para falar com ela.
Sempre assumi, com
frontalidade e responsabilidade, as minhas culpas e fraquezas. Aqui não seria
diferente, por muito que isso magoasse.
Nesse mesmo dia mudei,
integralmente, todos os meus hábitos e rotinas. Não voltei a reunir-me com a
minha turma.
Até ao final da semana
fichei-me em casa.
Foram uns dias difíceis.
O meu cérebro estava permanentemente ocupado com este assunto, partilhando o
tempo de processamento entre a minha culpa, a análise de uma breve sequência de
imagens que eu podia dissecar, fotograma a fotograma, e a triste condenação da
certeza de jamais voltar a ver aquela inebriante figura.
Neste lastimável estado
permaneci até ao fim-de semana.
Para além da minha turma
eu tinha um grupinho de amigo, muito restrito, muito cúmplice e solidamente
unido.
Esse grupinho era
constituído por quatro membros, direi melhor, éramos quatro subidos heróis de
inauditas proezas e aventuras. Amigos desde criança – “filhos de mesma
geração e da mesma sorte”, como nós usávamos dizer.
Destes, só eu estudava. Os restantes haviam
deixado a escola. Um ficou-se pela quarta classe; outro, nunca ligara nada à
instrução e cumpriu “recrutamento obrigatório” do ensino mais vezes em caso do
que na escola, quase não sabia escrever, lia soletreando e com uma fonética tão
arrevesada que parecia estrangeiro; o terceiro, que era o mais malandro do
grupinho, ficou pelo sexto ano de escolaridade.
Este grupinho de
aventuras, do qual preservo as melhores recordações e uma infinda saudade,
apenas reunia (ordinariamente) ao fim-de-semana ou, de forma ad-hoc,
quer em ocasiões festivas, quer para aventuras e malandrices.
Por vezes um dos
elementos do grupo tresmalhava-se. Se partia de férias, se saía para casa de
familiares, se tinha algum tipo de outra actividade que lhe ocupasse o
fim-de-semana, faltava à chamada por um período de tempo razoável, sem prejuízo
de manter todos os compromissos para “acções ad-hoc”, sempre que
fosse “requisitado”.
Surpreendentemente, e contra todas as probabilidades, foi neste grupinho que se fez luz sobre aquela misteriosa e quase-divinal figura.
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SE tem baixa auto estima e sentimentos de inferioridade, permita-me que lhe sugira escolher um bom profissional e realizar psicanálise ( ou psicoterapia): foi das melhores decisões da minha vida!
ResponderEliminarTudo de bom
Obrigado pela visita e, mais ainda pelo comentário.
ResponderEliminarFico-lhe grato pela expressão da solidariedade traduzida neste comentário e a sua observação e, prezo muito saber que isso lhe tenha sido útil.
Contudo, e infelizmente, a minha relação com esse tipo de actividades não é apenas de ineficácia e de incompatibilidade... é mais uma "relação tóxica".