Olha blogue: detesto argutos hipócritas!
Hoje, como havia previsto, ia telefonar ao “altíssimo” (o meu chefe hierárquico), pois retomarei as minhas funções esta semana, mais concretamente, sexta-feira.
Não precisei telefonar-lhe. Ele antecipou-se.
Até aqui tudo bem. Porém, a questão não é assim tão simples. Há impostura e malvadez num gesto que parece de límpida gentiliza e preocupação.
Explicarei!
Ainda cedo, telefonou-me a “dra. recursos humanos” (uma impostora, cujo carácter é tão valioso como as jóias de pechisbeque que usa). Pretendia a dita amanuense saber se eu estava a pensar passar pelo seu prestimoso despacho, antes de regressar. Respondi-lhe, de forma ligeira: “evidentemente que não!”
Vai daí, a dita Sra. comunicou-me que na sexta-feira, por motivos de força maior, não estaria disponível e eu necessitava de formalizar o meu retorno ao serviço. Tão prestável e generosa se mostrava que eu, pateta como sempre, segredei-lhe uma ideia que me ocorrera. Assim em letras muito pequeninas e em nota de rodapé, disse-lhe que gozaria um dia de férias vencidas, referentes a 2024, logo estava a pensar só regressar na segunda-feira – bem vistas as coisas não faz sentido regressar numa sexta-feira, dado que o meu retorno ao serviço faz-se “sub conditionem”, ou seja com condições especiais de serviços e horários.
Pareceu-me puder confiar-lhe esta decisão minha. Disse-lhe que “isto fica entre nós”, mas tenho justificação para fazer esta pequena alteração e mandarei com as “24 horas de antecedência regulamentares” o requerimento ao meu “benquisto altíssimo”.
O que eu não imaginava é que a “profissionalíssima” iria de imediato comunicar isto ao dito cujo “altíssimo”.
Uns dois minutos depois soa novamente o irritante telemóvel (detesto este horroroso objecto e, para ser sincero, não costumo usar – contam-se pelos dedos de uma mão as vezes que, durante um ano, me faço acompanhar desta porcaria).
Atendi.
Era o grande chefe, muito emocionado e prazenteiro: acabava de se lembrar, por arte mágica, que eu deveria regressar esta semana. Ora, como ninguém daquela instituição se lembraria de me contactar acerca disso, ele (usando o seu sexto-sentido) esperava-me na sexta-feira de manhã. De tal forma eu sou importante que ele, que com uma gentiliza inaudita, cancelara assuntos importantes da sua agenda, só para me receber - até porque eu sou o seu assessor mais cotado na bolsa das suas preferências pessoais e profissionais. E, imagine-se só, “nem sequer necessitas passar pelos recursos humanos” (sic).
Bom!
Isto começa mal. Tanto tempo depois, e quando regresso já tenho uma alma penada para esconjurar!
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Bem-haja e felicidades!