domingo, 31 de maio de 2020

Se pudesse, o que alteraria na minha vida - II...

Amigo blog:

O meu dia amanheceu cedo e bastante entroviscado. 

Apesar do “cielo despejado” (como dizia o tio Juan), uma tempestade assolava-me o peito e a mente. Custa a conter a compostura quando temos de tolerar pessoas deprimentes, cujos actos conspurcaram e comprometeram muita coisa na nossa vida. Daquelas que não enxergam nada além dos seus interesses, julgando que nós só temos obrigações e elas só têm de direitos.

Deixo o assunto para outra ocasião porque me comprometi a responder a esta questão:
O que faria se tive o poder de mudar a minha história de vida - regressar ao tempo da minha juventude e alterar o curso da minha vida?

Devo prevenir algum incauto leitor (se alguém tiver estômago para ler este meu mal asado rascunho) de que não sou, de todo, um modelo de virtudes e não sirvo de exemplo para ninguém.
Nesse contexto, a minha resposta é complexa e difícil de entender. 

Hoje fico-me pelo intróito 

Bastava-me regressar a 1980. Se isso acontecesse, e eu tivesse poder para tal, alteraria tudo, definitivamente tudo, na minha vida.

Era eu, nesse então, um jovem extremamente tímido e com um acentuado complexo de inferioridade (ainda hoje sou assim… um simples comentário, gesto ou palavra, deixa-me de rastos, por dentro). Apesar de muito bom aluno, convenci-me que nunca seria nada na vida.

Persuadi-me que todos eram superiores a mim e que nunca teria aquilo que desejava: a profissão que eu gostava, as miúdas que me fascinavam, a vida que eu pretendia… sentia que nada disso estava ao meu alcance. 

Embora, nos meus tempos de estudante do secundário, eu fosse um dos alunos mais elogiados da escola (isso deixava-me mais diminuído e inseguro, com medo de falhar). Tive oportunidade de liderar projectos importantes no meio escolar, ganhei prémios, participei activamente em tudo o que de mais importante se realizava na escola (era, quase sempre, organizador ou convidado para organizar - desde publicações até à associação de estudantes, passando por festas, bailes, teatro, música, etc.), e isso levou a que eu tivesse uma visibilidade extremamente elevada (granjeando grande amizade e confiança – que ainda hoje dura) entre professores, funcionários e alunos de toda a escola), … etc. etc. Mesmo assim, sempre me achei o mais reles, simplório e rude entre todos. Mais do que “síndrome de patinho feio” achava-me um bicho peçonhento e repelente. 

Isso condicionou toda a minha existência. 

Piorou muito nos anos 80, em plena juventude, porque, na verdade, nunca tive uma pessoa que gostasse de mim (estou a falar de amor, paixão, namorada…). As miúdas só se aproximavam de mim por interesse: fosse pela ajuda de um bom aluno, fosse pela minha capacidade de organização, fosse pelo à-vontade com que me mexia dentro da escola, sobretudo pelo poder de influência que (estranhamente) tinha. Algumas aproximaram-se de mim, exclusivamente, para conquistar algum amigo meu. 

Todas a quem eu disse (ou dei a entender) que gostava, afastaram-se ou tornaram-se minhas inimigas. 

Curiosamente, algumas nunca mais falaram comigo. Tenho bem vincadas na memória histórias que, se as contasse, creio que ninguém acreditaria. 

No seguimento de tudo isto, a escola deixou de ser o meu habitat preferido. Em nada beneficiava de um “estatuto” elevado. Assim, nada me prendia à escola. Por mim, teria abandoando os estudos (hoje pergunto-me se essa não teria sido uma boa opção). Os meus pais opuseram-se sempre. Entre desatinos e desilusões, mudei de escola(s) e acabei por concluir o meu ensino secundário na Escola Gil Vicente, em Lisboa (longe de paixões, amizades e confusões, mas não sem algumas peripécias). 

Foi no meio desse mar revoltoso da minha juventude que um dia tive uma visão alucinante – fiquei possesso de um estranho encantamento por uma “princesa divinal”, uma musa impossível mas que mudou tudo na minha vida (o seu nome real é Isabel). 

Companheiro blog, fico por aqui…

Como bom católico, amanhã tenho de me levantar cedo. Quero ir à missa e ainda não conheço as regras que vigoram na paróquia que frequento (que não é a minha, claro!).

sexta-feira, 29 de maio de 2020

Se pudesse, o que alteraria na minha vida - I ,,,,

Meu caro blog:

Estás em tempo de ventura: recebeste mais uma visita. Olha, ao ler o comentário emocionei-me, juro. Custa-me a crer que alguém tenha tanta bondade e desprendimento para ler o que eu escrevo. Sobretudo porque escrevo o que sinto e o que sou, mas não passo de um amontado de sucata, sem valor e quase não sei escrever.

Recordas-te, blog amigo, que deixei esta pergunta no ar: “Se eu fosse omnipotente o que alteraria na minha vida?”

A resposta é: Depende!

Entre nós os dois, meu caro blogue, posso ser objectivo e cristalino. Nada do que disser está contaminado de hipocrisia e de “socialmente correcto”. Assim, vou dividir a minha resposta em duas:

1 – Mudar a vida que tenho - alterar a minha vida hoje, mantendo tudo e reconfigurando as peças do meu xadrez de vida?

2 – Ter o poder de mudar a minha história de vida - regressar ao tempo da minha juventude e alterar o curso da minha vida?

No primeiro caso (e hoje tratarei desta parte, apenas), não haveria muitas mudanças - seria contraproducente e já é demasiado tarde para modificações.  

Sinto-me desagastado pelo tempo e pelos contratempos, ora corroído pelas agruras que degradam e consomem, ora moldado pelas circunstâncias, acomodei a minha existência àquilo que a condiciona e enforma. Além disso, para o bem ou para o mal, sou peça de uma engrenagem cujo funcionamento condiciona outras pessoas, outras vidas, que não tenho o direito de arruinar.
Estou incluído no projecto de vida de outras pessoas, cujo valor para mim é incalculável.
Não! Por nada deixaria a minha consorte ou destruiria a minha família. Nunca e a troco de nada. Seria uma ingratidão e uma estupidez fazê-lo. Acho isso execrável e patético.

Aqui tive o meu suporte, a minha âncora, a bóia de salvação. Não teria coragem de fazer perigar este porto de abrigo, de cumplicidades, de cooperação e de entreajuda.
Nada, pode ressarcir ou pagar esta caminhada em conjunto: tanto o auxílio para levantar nas quedas, como uma taça pronta para celebrar os êxitos.

Não estou a saldar uma dívida, mas sim a partilhar, de pleno direito, de uma fortuna incalculável, a reconhecer a impossibilidade de avaliar algo que não tem preço. Não sou apenas grato, faço parte dessa gratidão. 

A minha vida não foi aquilo que eu queria que fosse. Sonhei ter uma vida diferente, calcorrear outros caminhos, ter uma existência bem mais repleta a prazerosa… quis o destino que assim não fosse!

Nunca traí a minha consorte e não vou fazê-lo. É, para mim, uma questão de carácter, de honra e honestidade. Assumi um compromisso, terei de mantê-lo. Não importa o que possam pensar. Mesmo que todo o mundo me condene, aquilo que eu tenho por sagrado e incontestável não está sujeito a arbitragem – é para manter, seja a que preço for e, sobre isso, não há discussão.

Então, o que mudaria?

- A minha profissão - que eu escolhi, mas hoje acho completamente estúpida e ultrapassada, chegando mesmo a subverter o meu sistema de valores.

- A minha morada - gostava de viver numa terra diferente, em circunstâncias diferentes e retirar do círculo de proximidades algumas pessoas que infestam e molestam.

- Reformava-me já.

No resto, pela estabilidade que sinto pode dizer-se que, à minha maneira, sou feliz.

Bom, mas se disser que há uma “divinal princesa” que não consigo retirar da minha mente, e que mistura a sua existência com uma realidade modelada em sofrimento, lágrimas e desassossegos! Então, em que ficamos?

Sim, essa “princesa/musa” faz parte da minha existência de forma etérea, intrínseca e incontrolável. Já me dominava antes de conhecer a minha consorte (aliás, é a causa de nos termos cruzado um dia).
Eu não consigo esquecê-la e a sua imagem preenche uma parte vital de mim. Apesar de tudo isso, hoje eu não quero nada, absolutamente nada, dela. Tal como eu prezo e encimo a minha vida com a minha família, desejo que ela faça o mesmo. Nada me poderá deixar mais preenchido do que saber que ela está bem e é feliz.

Parece um paradoxo, contudo esta é a realidade.

O que mudaria, neste aspecto?

Gostava de limpá-la da minha mente.
Sei que nunca conseguirei. Talvez um dia, vendo-a pessoalmente, eu consiga desvanecer a imagem celestial que tenho dela.

Sim, isso eu mudaria. Mas, por outro lado…

Gostava que ela regressasse a Portugal definitivamente. Gostava de vê-la, de poder deliciar os meus olhos com a mais deleitosa e divinal imagem que alguma vez conheci... Gostava de ouvir a sua voz (atormenta-me não recordar o timbre da sua voz).

Porém, nunca e em nenhuma circunstância, aproximar-me dela.

Sim, gostava que ela soubesse que há um demente que convive neste “aprazível tormento” com ela, no entanto, de forma alguma que ela soubesse quem eu sou (isso nunca!). Ou seja, que ela conhecesse esta história de vida mas não o seu autor. 

Na verdade, gostava de fazer parte do seu círculo de amigos, como uma pessoa inocentemente normal.    



Perdoa-me caro blog!... Estou cada vez mais chato, indigesto, importunador e a exceder-me em texto…

quinta-feira, 28 de maio de 2020

Atraindo o azar...

Caríssimo blog:

Tive uma semana estafante.
Eu sei que tu estás vaidoso…já tiveste um comentário – sortudo!

Em questões de sorte, lamentavelmente, não posso competir contigo. Nunca fui muito favorecido pela ventura, nem acredito nessas coisas. Sou mais um desvalido da sorte e achacado pelo azar. Vê lá tu este triste episódio:

A minha consorte pediu para passar no hipermercado e trazer umas compras.
Eu fui. Só que, como estava calor e tinha as mãos muito soadas e pegajosas por causa do gel desinfectante (aquilo a que eu passei a chamar “síndroma de caracol”), decidi ir ao WC. Foi uma aventura. Estava a lavar as mãos com a máscara pendurada só numa orelha, para respirar livremente um pouquito. Então não é que o estupor da máscara caiu dentro do lavatório e ficou toda encharcada e cheia de espuma!


Sem máscara, aquilo foi um drama. Fui quase promovido a terrorista, talibã ou meliante de igual espécie. Nem eu sabia que era tão perigoso e assustador.  Tive de vir embora!…


A consorte ficou na dúvida. Ela acha que me esqueci e a questão da máscara era treta. Mas foi verdade. O que eu achei mais absurdo é que, segundo a segurança, não havia maneira de eu comparar uma máscara para me desenrascar…

Olha, na nossa última conversa ficou no ar uma questão:

Se eu fosse omnipotente o que alteraria na minha vida?

Não me esqueci e, como sabes, além de ser de boas-contas, não costumo fugir a nenhum assunto, por mais incómodo que seja. Assim sendo, amanhã falarei sobre isso.


domingo, 24 de maio de 2020

Sinto-me um vadio no deserto...

Meu caro blog:

Toldado pela síndrome de "Domingo à tarde", esta hora de empardecer caustica mais as minhas fragilidades. Tu, meu fiel blog, sabes bem porquê.

Hoje sinto-me no meio do nada. 
Há já muitos fins-de-semana que não saio de casa. Literalmente, não tenho para onde ir. O mundo não tem nada que me desperte atenção, salvo um lugar muito específico. Esse sítio é, justamente, onde não devo ir. Por isso estou melhor em casa, embora, por estar recolhido nos meus domínios não obste a que eu não entre no domínio da vulgaridade e da estupidez - hoje foi um desses dias. Abstenho-me de pormenores, não vá alguma alma sensível (se existir alguém que desperdice o tempo e tenha o mau gosto de ler isto) tomar-me por mais desequilibrado ainda.

A verdade é que me sinto no deserto. Não estou perdido. Eu faço parte desse deserto. Vazio, oco, agreste, inabitável, árido, repelente e infrutífero, assim sou.
Sou um camelo errante no deserto, abandonado à sorte, desprezado por algum tuaregue. 

Vivo de aridez e miragens. 

Não necessito de nada para me desgastar – basta-me a minha luta contra mim próprio. É uma luta entre o eu-real e o eu-fantasma; aquilo que sou e aquilo que me persegue.

Blog, tu sabes que ninguém consegue entender isto!
Se, por um lado, o que mais queira que acontecesse era poder fazer “reset” à minha vida - limpar tudo da memória. Ao mesmo tempo, independentemente de todos os tormentos e contrariedades, sinto uma vontade incontrolável de me aproximar daquilo que me enfraquece e debilita – essa “musa divinal e impossível”.

Porém, seja qual for a situação, independentemente de tudo o que pudesse acontecer, nem que todo o impossível se tornasse, milagrosamente, realidade… eu não queira nenhuma ligação objectiva a ela – NADA, ABSOLUTAMENTE NADA. O que está, está bem como está. Eu é que estou mal!...

Então, se eu fosse omnipotente o que alteraria?
(Se eu tivesse controle sobre tudo, o que eu faria acontecer?)

sábado, 23 de maio de 2020

Sinto-me um fantasma - cadavérico mas com alma...

Meu caro blog:

Como sabes, sou “pirado da mona”.

Hoje estou num daqueles dias em que a alma não acompanha o corpo. Não sei se a alma não cabe no corpo ou se é difícil conciliar estas duas essências.

Um corpo sem alma é um cadáver.
Eu não sei o que sou… se sou o corpo ou se sou a alma!

Estava cansado. Deitei-me no sofá e fechei os olhos.
Senti-me, literalmente, entrar num mundo paralelo, numa outra dimensão, numa existência totalmente diferente onde o presente é montado como se fosse um cenário do passado.

É aí, nesse mundo, onde faço longas jornadas. Contudo, também é ai onde me judicio, onde me acuso de tudo o que sou e condeno por tudo o que não fui e podia ter sido. Aí chamo à colação as faltas graves, os erros, as decisões funestas, todas as imbecilidades que cometi contra mim próprio, acusando-me de um crime de lesa-sentimento.
Quantas vezes daí sai um despacho de pronúncia em que sou sentenciado a cumprir este degredo que me deperde a existência e desgasta o espírito: carregar o fantasma daquilo que poderia ter sido, mas desperdicei.  

Creio que a meu favor tenho apenas uma testemunha fiel: a minha incomensurável timidez.
As pessoas que comigo convivem, que me vêem discursar em público, em locais de grande responsabilidade e repletos de pessoas eloquentes, na minha profissão (em que, obrigatoriamente, falo para uma plateia), ou no palco (que é um dos meus hobbies), ou defender as minhas convicções em público… ninguém imagina a timidez que me devora e o sentimento de inferioridade que me domina.    

Muito menos passará pela cabeça de alguém que eu vivo cheio de fantasmas e com um amor incondicional que derrota toda a estratégia para o ultrapassar ou esquecer.

Quis Deus que eu tivesse um talento natural para “fazer de conta”, para fingir. Felizmente sou bom actor.
Se isso ajuda a minha socialização, integração, convivência e até a vida familiar, não alivia nada a carga que pende sobre o peito e o suplício que devasta a mente.


Olha, meu caro blog: saído da tu presença não passo sem visitar a minha “divinal musa”. Não posso entrar no seu facebook (porque não tenho um perfil)… mas, mesmo ficando à porta, sinto-me nas nuvens, roçando o céu!...  

sexta-feira, 22 de maio de 2020

Sinto falta disto...

Hoje, não sei porquê, deu-me uma saudade pungente do teatro.

Esse maldito vírus que os chineses deixam escapar (ou soltaram… para mim é igual), acabou com tudo o que tinha programado este ano.

Sinto falta do stress, da preocupação, de ter a cabeça ocupada com o personagem, o papel, o texto, as marcações, de “encarnar uma pessoa estranha”, de ter de improvisar (o que sempre fiz, mesmo na vida real) … tudo o que me faz esquecer (por pouco tempo que seja) aquilo que me atormenta.
Até sinto falta das trapalhadas, das viagens longas, de andar a cair de sono na rua, de me chatear com os colegas, de estar morto de cansaço e ter mais algo para fazer, de estar ansioso para entrar em cena, de sentir a boca seca…

Bem, hoje até sinto falta da B----. 

[Passo a vida a arrepender-me daquilo que faço .
Aconteceu mais uma vez...
Quero continuar aqui como uma pessoa sem rosto, um anónimo desprezível, aquilo que sou no fundo - uma réstia de sucata humana...
Por isso, e para evitar ser identificado, retirei esta parte do texto, pois narrava factos pessoais e que várias pessoas conhecem.]

Meu Deus… às vezes acontece-me cada palermice!



Mas, no fundo, é disto que eu hoje sinto falta para esquecer outras coisas mais acutilantes.

quinta-feira, 21 de maio de 2020

Hoje é dia...

Hoje é “Quinta-feira da Ascensão”.

Sou católico. Assumo-me como crente, cumpridor (praticante, como alguns dizem) e conservador. Isso levou-me a estudar latim.

Embora não seja muito fácil, sobretudo o latim erudito, é uma língua muito interessante. Pode parecer inútil estudar uma língua morta, contudo já me foi de grande valia em várias situações.

Não sou um grande letrado, muito menos um poliglota, mas tenho um apetite especial por conhecer algumas línguas.  
Francês e Inglês foram línguas de estudo e trabalho, espanhol língua de alguns familiares (por isso, ainda hoje muito comum cá em casa), italiano língua de simpatia e o alemão, língua que ando a estudar como autodidacta, é uma questão de afeição. 


Temos ainda o russo – a língua que eu mais admiro.  De Russo, o pouco que sei também fui aprendendo sozinho – o primeiro manual de russo, que conservo com grande estima, chamava-se (chama-se) “Breve Manual de Língua Russa” de Nina Potapova. Depois deste manual vieram alguns outros, lições em áudio, etc. Entretanto fui praticando com alguns amigos de Leste que tive a felicidade de conhecer. Como quase tudo na minha vida, lá fui deixando de lado. A parte curiosa: recentemente tive necessidade de lidar, profissionalmente, com um polaco - o meu  muito debilitado domínio da "Russkiy Yazik"  foi uma ajuda abençoada. 

Falta-me falar de Esperanto.
Estudei Esperanto com mais dois colegas. Cheguei a falar razoavelmente. Ainda conservo alguns manuais (tudo cópias... Pirata!), mas os colegas partiram daqui para fora e… o esperanto perdeu a graça que tinha,

Meu Deus, que saudade desse tempo!

A última aventura foi aprender alemão. Vou estudando sozinho, muito lentamente, porque a minha curva de aprendizagem está a flectir de forma acentuada. O encanto dessa língua não está no idioma em si, mas no facto de albergar alguém especial. Só que, mal-grado o grau de dificuldade, parece inglório o esforço, pois tenho uma dificuldade incrível de entender o povo da Suíça, cujo alemão parece afastar-se do meu “padrão”…
Ia falar sobre a Quinta-feira da Ascensão, mas perdi-me.

Para não resvalar para onde não quero… fico por aqui! 

segunda-feira, 18 de maio de 2020

Desconfinado... mas "abusado"...

[Desconfinar (verbo transitivo e pronominal) - retirar de confinamento, tirar ou sair de isolamento ou clausura.]

Atingi um estádio da vida em que poucas são já as coisas que me cativam. O meu mundo é um tapete rolante de contrariedades, ornado de sacrifícios vãos, onde, em cada canto, jaz um sonho em ruínas, um desejo aniquilado ou os destroços de vácuas ilusões.

Neste marasmo de frustrações, temo, agora, ver circunscrito o número de pessoas que me merecem grande apreço. Detesto hipócritas, abusivos aproveitadores da boa-fé, trastes que maculam a confiança que neles depositamos, desrespeitando obrigações e falseando compromissos assumidos.  

Depois de infindas horas de reunião, onde foram definidas regras de funcionamento na instituição onde vendo a minha força de trabalho, eis que regresso com o dobro das atribuições dos demais, porque um dado confrade decide contornar o que fora definido e, à revelia do que fora acordado, coube-me o ónus de Cireneu (carregar com a cruz alheia).   

Até a minha consorte entendeu amenizar a situação, misturando a minha natural benevolência com confiança e abuso. Fiquei amofinado, claro. Espero sempre que me compreenda e não que defenda os demais. Enfim…

Chateado q.b. passei no facebook da “eterna diva”.
...
Tens uma “tarja” a dizer: Ich arbeite für Euch.
Sabes!?... Ich arbeite für niemanden! Ich arbeite aus Verpflichtung, aus Notwendigkeit ...
Será que tu entenderias isto?

Meu Deus! Aqui, tão longe no espaço e na existência, alguém que tu nem imaginas existir, sempre teve em ti o tranquilizante para todas as agonias, o analgésico para os momentos que lhe ferem o mais fundo do peito… E, mais que tudo, sente-se feliz sabendo que estás bem.


Bleib Gesund, Isabel!

domingo, 17 de maio de 2020

Domingo - o meu costumado devaneio ao entardecer...

Domingo.
Domingo à tarde é, quase sempre, um momento que me deixa abatido, melancólico e até frágil. É, e sempre foi para mim, tempo de regressar às lides quotidianas. É também o momento em que bate mais fundo a saudade e mil recordações saltam do baú da memória  

Ah se eu pudesse viajar no tempo!...

Se pudesse viajar no tempo, revisitar o passado e mexer no mecanismo que regula a minha vida, sei muito bem qual o ponto onde queria parar e o que queira alterar.

Em cada Domingo, quando entardece, há uma penumbra cinzenta que pincela toda a minha alma, espreme o peito, macera o coração e ocupa todos os sentidos. Sinto-me anoitecer.

Talvez por isso eu procure uma réstia de luz, como se fosse a lua oculta por um manto de nuvens e dela quisesse um ténue e quimérico sorvo de luar. É como se, por entre o diáfano da roupagem de nuvens, do céu viesse uma ofuscada claridade que, no negrume invencível da noite, parece um salvífico farol ou uma radiante fonte de coragem, alento, esperança e vida.  
   
Mantive, estes dias, uma prosa interessante com uma sublime internauta sobre “nuvens”. A visão poética com que ela pinta as nuvens é, infelizmente, muito diversa da minha. No mundo há pessoas incríveis, com uma capacidade quase sobre-humana de ver o lado belo e aprazível das coisas. Eu, porém, que mais não ouso ser do que uma amontoado de sucata humana, tenho uma percepção mais sensorial das coisas. Para mim, sentir é quase sinónimo de sofrer. Sei que ela não me entendeu… mas, nem eu me entendo!

Antes de garatujar este mal debitado desfio de palavras (que só com muita bondade pode ser apelidado de “texto”), estava a vaguear entre imagens de uma pessoa que nem sequer imagina que eu existo. Ninguém consegue imaginar a "energia" que uma foto dessa "divinal musa" consegue descarregar sobre mim. É difícil acreditar, tanto mais na circunstância de nada nos unir de forma objectiva, ela nem me conhecer, eu não a ver há mais de 30 anos e cada um de nós ter a sua vida organizada… bom, eu serei, no dizer de muitos, um caso patológico!  
Patológico ou não, sou inofensivo e carrego comigo coisas que não consigo ultrapassar, nem sequer esquecer. 

Fui visitar um lugar da Suíça, uma pequena localidade chamada Alvaneu (Alvaneu–Dorf), onde ela viveu, mas já não vive. Meine Gott… conheço tão bem aquela aldeia, sem nunca ter visitado a Suíça e, curiosamente, também não conheço mais ninguém na Suíça e muito menos que tenho vivido ali. Porém, aquele recôndito, pequeno e distante lugar fascina-me.


Fico por aqui, antes de começar a dizer asneiras…

sábado, 2 de maio de 2020

Um segredo que guardo e...


O Facebook recusa-me o direito de não me identificar. Ou seja, para aquela cáfila de merdas nojentos, uma chusma de vermes asquerosos que pastoreiam toda a badalhoquice, defendendo e exaltando tudo o que há de mais execrável na sociedade, eu tenho de colocar num perfil da Internet um nome e uma fotografia. Até posso inventar e falsificar dados (coisa facílima, mas o que me recuso a fazer – e se o fizesse já tinha Facebook), mas dizer que não quero identificar-me publicamente, isso é que não posso fazer. Portanto, o que importa é criar a personagem, não o conteúdo.

O que tem isto a ver com o meu último post?

Bastante! O suficiente para eu estar aqui a grafar este ridículo arrazoado.

Na verdade, eu creio que tenho problemas mentais. Julgo que, pelos padrões  que por aí vejo defendidos, eu caio dentro das balizas das pessoas com doenças mentais, quiçá, mesmo, seja um caso psiquiátrico grave.

Criei este blogue, há uns anos, para contar uma parte secreta da minha “história de vida”.
Aqui expus um segredo intímo que me atormenta e que nunca contei a ninguém. Curiosamente, tal como eu imaginava, “fui apedrejado” - insultaram-me, criticaram-me de forma grotesca e ofensiva, mimaram-me com os mais desdenhos adjectivos.   

[Hoje, já escrevi tanta coisa e ainda não disse merda nenhuma]

Bem!...
Eu queria criar “um Facebook” para contar esta minha história de vida, mas só o faria se fosse de forma anónima. Não posso!? Também não me atrevo a fazer isso de outra forma, claro.

SEGREDO é para manter secreto, só aqui o revelei (e talvez repita toda a narrativa!).

Em boa verdade, eu sou um paradoxo. Cavalheiro casado, bom pai de família, fiel como o cão de Guerra Junqueiro, incapaz de romper os compromissos assumidos, homem de uma só palavra e escravo de deveres e valores, de postura social grave e exigente, reivindicando sempre a verdade e os direitos… sou daqueles que assume toda a responsabilidade dos seus actos e, por muito que custe, se a culpa me onera, nem um só fonema saiu da minha boca em favor de me desagravar.

No entanto, vivo atormentado por um amor incondicional que me consome há quase 40 anos. Nada, nenhuma estratégia, nenhum facto, espaço ou tempo dissipa e cura.

Ora,  eu “estava em baixo" porque, depois de me agastar com a minha consorte,  passei no Facebook da minha “diva” (e como não tenho um perfil naquela rede social, fiquei à porta…). Quando me sinto abatido, quando algo corre mal, quando preciso de “uma luz”, quando necessito de força, ânimo ou coragem, procura-a. Ela nem sabe que eu existo. Nem lhe passa pela cabeça que há um demente que a invoca, como se fosse uma divindade, todos os dias, que quase todos os dias se deita a pensar nela e acorda com ela no pensamento (se os sonhos não lhe pouparam esse trabalho).

Enfim, uma parte secreta da minha vida que nem quase quarenta anos sem a ver, nem dois mil quilómetros de distância atenuam ou resolvem.

Continuará (talvez!)...