domingo, 9 de agosto de 2020

A primeira carta que te escrevi!...


Amigo blog:

Continuo em estado lastimável – doente no corpo e, creio bem, na alma.
Não sei se amanhã vou tirar a “tubagem”. Assusta-me pensar que posso retirar de manhã para ter de colocar à tarde…

Bom!... Adiante!
Vou tentar colocar aqui mais algumas “postagens”, até quinta-feira.
Nesse dia, se as coisas correm mal, este blog pode acabar. 

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Estava a tentar narrar, de forma abreviada mas seguindo a sincronia dos eventos mais marcantes, o que de mais importante se passou comigo desde que vi esta miúda fatal. Tudo foi (e é), no mínimo, estranho e não é fácil de ser descrito por palavras. Digo bem: “desde esse dia 22 de Junho de 198x”, pois tal situação progrediu no tempo e prolongou-se até hoje, Agosto de 2020.

Na segunda-feira em que descontinuei a minha narrativa, regressei a casa, não sem que tivesse ocorrido um facto importante (e marcante) que, por falta de tempo, vou desatender, até porque obrigava a um relato extenso. 

Regressado ao eremitério do meu quarto, onde passei sentir-me como se vivesse numa outra dimensão – entre quimeras, desejos e solidão -, decidi escrever a essa semi-deusa que ocupava toda a minha mente, o meu tempo e dominava o meu corpo. 

A primeira carta que lhe escrevi e que nunca lhe enviei (não podia remetê-la porque não sabia o seu endereço postal, nem sequer sabia o seu nome completo), tinha a forma de um livro. Este formato é interessante, pois se juntasse todas as demais que escrevi teria alguns abastados volumes, de uma história sem fim. Ainda conservo essa primeira missiva entre os meus alfarrábios (dada a extensão da minha biblioteca creio que esteja segura, mas penso destrui-la em breve). 

Na verdade, esse extenso texto não é uma preciosa relíquia que se guarda com pia devoção, é uma peça da engrenagem da minha vida. 

O texto tem, aqui e ali, algumas partes esbatidas, pois a tinta (eu usava caneta de tinta permanente) dilui-se em algumas gotas que os meus olhos derramaram sobre o texto. 

Nem todas essas gotículas de lágrimas foram derramadas nessa noite de Julho de 198x. Algumas foram-lhe sendo acrescentas pelos anos fora, sobretudo nos momentos mais duros da minha vida, naquelas horas em que a saudade e a lembrança me torturam, a decepção me ia (vai) devorando o peito e também quando a incompreensão e a solidão se juntaram (e se juntam) nos pedregosos caminhos da minha vida. 

Há uma parte do seu conteúdo que não posso reproduzir. A razão é simples: contém uma descrição pormenorizada da minha pessoa, do lugar onde residia (e onde actualmente estou a morar) e algumas outras informações que identificariam todos os lugares e intervenientes nesta narrativa. Eu podia substituir nomes e lugares por denominações fictícias, porém não o farei. Eu necessito ser verdadeiro, completamente fiel aos factos e tentar obter a paz que tanto busco… já chega de calar uma história que me atormenta o peito, que me custa demasiado a suportar. 

Para ser verdadeiro, na situação debilitada e perigosa em que me encontro, O QUE EU MAIS QUEIRA É QUE A ISABEL CHEGASSE A LER ESTES TEXTOS, mesmo sem saber quem é o seu autor, mas eu tenho a certeza que isso nunca vai acontecer. 

Aqui fica um pequenino fragmento.


"Querida Isabel:


A primeira pergunta que farás, é: de onde vem esta estranha carta?

Infelizmente vai de alguém que tu não conheces, nunca viste, nem sequer sabes que existe, em quem nunca reparaste e, muito menos, te importa a sua existência. 

Antes de me apresentar, quero que saibas que, neste momento, és, para mim, a pessoa mais importante do mundo. Se eu tivesse que escolher entre tu e eu, juro-te, tu estarias primeiro. 

(…)

Talvez não entendas o que a seguir vou descrever, mas, juro-te, é a mais pura verdade. 
Há cerca de quinze dias, dia 22 de Junho (…)

Não sou capaz de exprimir por palavras o que eu sinto por ti. É como se, desde o momento em que te vi, tu tivesses penetrado no meu corpo e me percorresses as veias, calmamente, demorando-te no pensamento e, vagarosamente te deitasses, reclinada e sorridente, no meu coração. (...)


Já não posso dizer que sonho contigo(…) é muito mais do que isso - eu vivo contigo, tu vives em mim e sem ti nada tem sentido. (...)

 

Talvez isto pareça uma infantilidade. É verdade que, quando tenho a dom de Deus de poder olhar para ti, me sinto tão pequenino, tão rude, tão inútil e incapaz de reagir, mas não sou uma criancinha (…)

Se achas estranha e infantil a forma desta carta, quero que saibas que simboliza o muito que tenho a dizer-te.  Juro-te: para poder explicar o que sinto por ti e tudo o que gostava de te poder dizer, gastaria mais de um grosso volume de um livro – faria uma extensa publicação e muitos volumes poderia escrever de futuro, se para tanto tivesse capacidade.(…)

 Estou certo que, sobre ti, muito escreverei na vida, muito sofrerei, muito chorarei – como estou a fazer agora – e, enquanto o meu pobre coração bater, NUNCA TE ESQUECEREI. […] Aceita um beijo que seria a maior presente de Deus se eu te pudesse dar pessoalmente […]"

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