quarta-feira, 12 de agosto de 2020

O DIA MAIS FELIZ DA MINHA VIDA (II) - O trajecto até à casa dela...


 Caro blog:

Suspendo aqui a minha “história de vida”.

Não sei o que me vai acontecer nos próximos dias. Tenho passado umas semanas de sofrimento físico e psicológico.

A minha vida nunca foi florida, ao contrário do que todos os meus amigos imaginam. Aparentemente sempre tive tudo, uma vida de sucesso uma carreia e um currículo que alguns invejarão. Porém, a verdade é diametralmente oposta.

Tu sabes, caro blog, que sou apenas um bom actor (no teatro e na vida real). Sou a pessoa mais tímida das redondezas, sinto-me o mais rude, inútil e estupido de todos os seres… chamam a isso complexo de inferioridade, mas eu chamo-lhe “o meu fado”.

Será que alguém que me vê a desempenhar papéis complexos, interagindo com o público e improvisando sem problemas e com todo o à-vontade, ou nas discussões políticas públicas, ante plateias recheadas de gente importante, ou no meu desempenho profissional onde enfrento tanta gente (nem sempre fácil de gerir) … Será que alguém conjectura o que eu sou de verdade. Nem a minha consorte imagina a vergonha que eu sinto de mim próprio, o medo que comprime o peito…

Foi tudo isto que ditou o infeliz desfecho da “história de vida” que estava a narrar - algo que não tem uma explicação lógica e racional, a menos que culpe o “destino” por tudo o que me aconteceu.

Esse mesmo destino que me leva a interromper a tua companhia, caro blog. Se não puder regressar tentarei, pelo menos, eliminar tudo isto.

Peço desculpa às amáveis e bondosas visitas deste blog, pelo facto de lhes ter aparecido no caminho, de ter maçado e conspurcado a blogosfera, pelo sacrifício e desprazer de lerem as minhas palermices… Obrigado e bem-hajam!

¡Hasta!

« 

Retomo a minha narrativa exactamente no ponto onde a havia interrompido - a saída da mercearia/café e posto de correios do Sr. Serafim.


Aqui iniciei, com a Isabel, a mais feliz e inesquecível caminhada da minha vida, aquela em que tive uma semideusa por companheira de jornada e o evento mais feliz de que tenho memória.

Um dia de sonho. Um daqueles acontecimentos que só cabem na imaginação e muito dificilmente sucedem na vida real.

 Meu Deus!... Trocava tudo pela possibilidade de retornar a esse momento e repetir essa jornada.

 Tão feliz quanto nervoso, tão inseguro como maravilhado, percorremos esse trajecto de mais de 1 Km num lapso de tempo que, embora eu não consiga estimar, me pareceu o mais curto de sempre.

 

Creio que será difícil de entender, mas o meu estado era tal que eu bloqueei. Não recordo nada do que se passou nesse trajecto, até à casa dela. Por certo, não se passou nada de especial, mas eu não sou capaz de recordar nada. A memória desse dia não se apagou com o tempo – no mesmo dia, ao regressar a casa, eu já não conseguia recordar-me de nada.

 

Eu sei que estou a abusar, mas a imagem que hoje aqui publico é uma foto real (tirada à cerca de dois anos mais um recorte do Google Maps) do final do trajecto mais feliz  de toda a minha vida, que percorrei com a mais divinal de todas as “Divas” que o universo alguma vez albergou.

 Não há muitas diferenças em relação à paisagem daquele tempo, mas hoje toda esta área é, praticamente, um deserto humano – não vive aqui quase ninguém.

Subindo esta pequenina ladeira, por este estreito carreiro, que flanqueia, por um dos lados, o quintal dela, o meu passeio de sonho terminou ali, junto ao pequeno portão que servia de entrada secundária da casa dela.

Se não me recordo do que aconteceu no decorrer do trajecto calcorreado, o mesmo não acontece do ponto de chegada. Recordo-me, com algum pormenor, de tudo o que se passou do final desse dia de sonho.

Chegados ao portão da casa dela, estávamos de mão-dada, e eu tentei ganhar coragem para lhe dizer que ela era a pessoa que eu mais adorava no mundo e que me sentia super feliz por estar com ela. Não consegui.

 

Como eu tremia, meu Deus! O meu coração bombeava o sangue com tanta força que eu sentia uma pressão anormal nos ouvidos, nos olhos um estranho latejar e a respiração era difícil de controlar. 

 Não sei se ela percebeu o meu estado. Quiçá tenha pensado que eu tinha algum problema de saúde…

Enquanto eu tentava arranjar alguma palavra que iniciasse uma frase com sentido, ela largou a minha mão. 

 Ainda tentei segurá-la enquanto dizia: «Isabel, espera só um pouquinho…»

Foi inútil.

Ela fez questão de entrar no seu quintal, enquanto dizia: «Tenho mesmo de ir…»

Acho que fiquei petrificado. Não sei avaliar o que senti, nem a minha reacção.

Sei que ainda lhe disse: «Isabel… posso voltar aqui Domingo, para estar contigo?...»

 Não ouvi a resposta, mas ela esboçou um sorriso perfeito e encantador,  enquanto entrava no seu quintal.

 Fiquei ali, preso ao chão a vê-la desaparecer. Depois parti de regresso a casa.

 Eu não via nada à minha frente. Se, por um lado, me sentia o maior sortudo do mundo, por ter passado este tempo com a mulher mais excepcional do universo; por outro lado, entendia a forma como ela me “largou” à porta de sua casa, como algo de forçado.

Independentemente de tudo, eu sentia-me nas nuvens, muito perto do paraíso, a explodir de felicidade.

Tal era o meu estado, que esqueci todos os amigos, o nosso local de encontro, tudo o que havia combinado e regressei rápido a casa, fechei-me no quarto, peguei no meu diário onde gravei uma longa narrativa.

»

(P.S.: Parece que tudo estava a correr lindamente, mas, dessa data até hoje, só fiz asneira!)

3 comentários:

  1. Estive de férias e só hoje consegui cá vir. Ainda não li o que está atrás, mas vou ler. Contudo, parece-me que a saúde o impede de continuar. Desejo as melhoras rápidas e que volte rápidamente.

    Até mais.

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  2. Como correu o exame de quinta feira? Oxalá as notícias sejam boas.
    Desejo rápidas melhoras.

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  3. Oi bom dia. Tudo bem? Quero apresentar o meu Blogger. Novos amigos são bem vindos, não importa a distância.

    https://viagenspelobrasilerio.blogspot.com/?m=1

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