Meu caro blog: Calei-me subitamente. Faltava-me ânimo para reviver a lembrança
desse dia 06/07 de 198x. Recordar significa, antes de mais, ter de aceitar a
minha infinita pequenez (ou o complexo de inferioridade) que me levou a perder
tudo o que mais desejava, a viver uma vida vã e inútil, a esbanjar a minha existência.
…
Continuando…
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Não sei se esperei tempo infindo ou se o tempo que lá permaneci, por pouco
que fosse, converteu-se, para mim, numa eternidade.
Durante esse tempo de angustiante espera, foi variando o meu estado de espírito: ora angustiado com a quase-certeza de que ela não pareceria, ora suplicante a Deus, a todos os Santos e deidades que concebessem o milagre dela aparecer.
Fosse porque as minhas preces foram ouvidas ou fosse por mero acaso, eis o
momento esperado – a minha “divinal e encantadora visão” reapareceu.
Por triste fado meu, sempre assim foi e receio que sempre assim será, cada rosa está resguardada por um molho de espinhos, ou seja, a minha “celestial diva” estava acompanhada.
Queria eu ter capacidade bastante para verter em palavras o que eu senti no exacto momento em que a vi. Meu Deus, que sensação!... Todo o meu corpo foi percorrido por uma torrente de energia que, simultaneamente, arrepiava e queimava, vivificava e me deixava prostrado e paralisado, era a melhor sensação eu já tinha vivido e, ao mesmo tempo, a mais aflitiva das impressões.
Só de vê-la já estava cumprida a maior alegria que poderia receber. Bastava ter a oportunidade de a ver de longe, mesmo com a certeza de que ela nem me viu, não sabia que eu existo, muito menos poderia imaginar o efeito que tinha em mim.
Todo o universo parou. À minha volta não existia nada nem ninguém.
Segui-a de longe, mas não fui capaz de me aproximar. Acabei por perdê-la no turbilhão do vaivém de pessoas que enchiam o passeio e a avenida, porque eu estava num estado quase hipnótico – chocava com tudo e com todos… Porém, não era importante segui-la. Vi-a, isso era tudo o que eu mais queria, o maior privilégio divino, a maior dádiva de Deus.
Por ali andei, errante, procurando-a ao longe, vagueando em sonhos, entre o purgatório da minha incapacidade de me aproximar e o idílico milagre de poder olhar para ela.
Que beleza! Que harmonia! Que divindade!
Era, de certeza, a mais especial, a mais encantadora, a mais divinal de todas as mulheres do Universo.
Por ali caminhei, nas nuvens e aos encontrões, com o coração dividido: ora a
explodir de alegria pela felicidade de a reencontrar e poder confirmar que o
Xico estava certo (e era ela mesmo que eu procurava), ora flagelado pela
sensação de que seria impossível aproximar-me dela.
Ela era perfeita.
Eu não a mereceria. Sentia-me tão pequenino, minúsculo e insignificante, desajeitado e indigno de me aproximar dela.
Ela nunca poderia ser minha. Era demasiado “boa” para mim.
Mesmo assim, faltava agora poder tentar aproximar-me dela…
Por mero acaso vi o seu irmão mais velho (que eu conheci, sem saber que eram irmãos) entrar no autocarro. Decidi regressar no mesmo autocarro. Se era irmão dela, era importantíssimo. De simples anónimo e comum mortal, também ele foi automaticamente promovido a VIP!…
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… /…
A vida suspensa em algo que nada se traduz, não é saudável.
ResponderEliminarBoa tarde,
Concordo. Comecei a sentir um padrao perturbador de possessividade e doenca que nada tem a ver com um amor pacifico e romantico...
EliminarMas posdo estar errada
Como romance é interessante, como vida real, nunca conheci ninguém que sofresse de um amor assim nos meus setenta e tal anos de vida.
ResponderEliminarAbraço e saúde
Tornaste-te num stalker ou chegaste a falar com ela? Caramba. Pareces complicar. E olha que de complicações eu tambem nao sou inocente
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