Caro blog: Hoje fui à feira da minha terra. Apesar das diferenças geradas pelo distância no tempo e pela pandemia, não passei sem recordar (quase reviver) as sensações do episódio real que estava a pensar narrar. Tenho tão presentes os factos ocorridos nessa data que achei melhor não o fazer. Fica para outro dia.
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Na prossecução da minha narrativa, havia quedado à porta da minha “diva”, mergulhado na mais amargurada e dolorosa decepção.
O Xico, porém, astucioso e atento, não tardou em descobrir uma janela de
esperança que pudesse gerar um paliativo para o meu estado de desilusão.
Uma das tradições da minha terra natal era (e ainda é, embora em grau muito reduzido) a ida à feira quinzenal. Nesse tempo, da parte da tarde a feira funcionava como o grande ponto de encontro da juventude de todo o concelho. Num município eminentemente rural e com meia centena de freguesias, as moçoilas e os rapazes rumavam à feira com a mesma predisposição com que se vai a um concerto, a uma festa social ou a um espectáculo cultural. Ainda hoje, em algumas freguesias, há pequenas empresas que facilitam a ausência dos seus funcionários em dia de feira.
Por uma questão de integração social, também eu participava dessa praxis juvenil, embora de forma pouco assídua.
Não padeço de oclofobia, mas sempre apreciei muito mais o convívio dentro
de um limitado grupo de amigos, tranquilo e pacífico, onde todos se entendem e
podem compartir, positiva e democraticamente, as suas singularidades. Grandes
aglomerações de pessoas, muito ruído ou falta de espaço não me cativam. Sempre
entendi que para conviver é indispensável comunicar. Gosto imenso de conversar,
compartir o pouco que sei, aprender com os demais e disfrutar da companhia dos
que me são próximos ou caros em afeição.
Além de tudo isso, ocupava os tempos livres com hobbies de cariz bastante
mais construtivo e enriquecedor.
Voltando aos factos...
Tudo mudou quando o Xico disse: «Eureka!... A Isabel vai à feira amanhã,
de certeza!... Só não a encontras se não quiseres.»
Eis que voltou a brilhar o sol na tenebrosa penumbra que enegrecia a minha aura.
Por impedimentos inadiáveis, o Xico não podia ir à feira e eu já tinha ajustado outros compromissos, improteláveis e relevantes.
Fosse como fosse, a feira tornou-se o centro das prioridades, o mais desejado e importante evento do universo.
Bastou isso para revitalizar a alma e o corpo, voltar a casa encorajado e com a persuasão heróica de um oficial romano – tão pronto para a luta como desejoso por lutar.
Regressei directamente a casa.
Essa noite pareceu-me interminável. Ansioso e imaginando mil um cenários
para o dia seguinte, praticamente não consegui dormir.
Decidi esquecer todos os afazeres e compromissos… nada tinha relevância,
urgência ou valor que pudesse rivalizar com o privilégio (e o sonho) de rever
aquela divinal musa.
Eis que, enfim, chega essa segunda-feira - faz hoje anos –, dia 06/07/198x.
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Li todos os postes desde que não me foi possível por aqui passar. Um relato de acontecimentos e emoções que se podem viver na adolescência e que podem marcar para uma vida inteira pela sua intensidade.
ResponderEliminarObrigada pela peça de Paganini que me 'ofereceu', da qual fiz um post mas não o identifiquei, porque não sabia se o desejava.
Vamos em frente!