quarta-feira, 1 de julho de 2020

O primeiro efeito adverso da "minha diva" na minha história de vida...

Caro blog: Eu poderia omitir este episódio. Porém, o Xico foi crucial no desenvolvimento da história, neste e em muitos outros factos que, propositadamente, omitirei.

…Continuando

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Estávamos no Galocha e dizia eu que, naquele dia e naquele momento, “Vidi lumen regenerati spes mihi...” (Vi regenerada a luz da esperança, para mim … [no meu ferrugento latim]), com a Xico a identificar a minha “celestial diva”, através do retracto falado que eu acabava de fazer.

Modéstia à parte, nesse então eu tinha uma memória fotográfica e uma capacidade de descrição que bem justificavam a minha vontade de ser jornalista da rádio.

 Em abono da verdade, não foi uma coisa assim tão simples. Em primeiro lugar, imaginei que o Xico estivesse a galhofar comigo, o que era normal entre nós. Em segundo lugar, eu achava que também  conhecia todas as pessoas com quem ele se relacionava (socialmente e não só, porque não havia segredos entre nós) e, sobretudo, todas as “suas conquistas”.

Contudo, o Xico foi rotundo e directo: «Essa miúda que tu descreveste é a Isabel, tenho a mais absoluta certeza!»

Ante a minha incredulidade, ele foi ainda mais convincente: «Sei bem onde ela mora, não é muito longe, conheço a sua família e já passei umas boas tardes com ela… é uma miúda espectacular… mas para eu ser da altura dela necessitava usar um tijolo!...»

Então, tentei convencê-lo a falar tudo o que sabia sobre ela. Porém, ele, cauteloso e para evitar a separação do grupinho e perturbar a agenda desse dia, recusou-se a entrar em pormenores.

Claro que eu não cabia em mim de alegria, mas ficava-me o receio da desilusão. E se não fosse ela!?...  

Desafiei o Xico a irmos, sem mais delongas, ao encontro dela. Só que, infelizmente, nesse dia tínhamos um compromisso que, para os restantes membros do grupo, era inadiável e muito mais tentador. Para mim, procurar “a divinal e electrizante miúda” era o mais importante da vida. Estávamos num insanável conflito de interesses. Quase se gerava uma quezília séria e grave entre nós.

Como resultado da discórdia que se criou, decidi não acompanhar o grupinho nesse dia. Essa foi (apenas) a primeira complicação, a primeira alteração da minha vida, por causa dessa “diva” que, na realidade eu nem conhecia e tão-pouco tinha a certeza se era a pessoa de quem o Xico falava.

Eles partiram para a festa, como estava calendarizado. Eu, possesso e inflamado, quase a explodir de nervos, mas a tremer de emoção, regressei a casa.

Foi uma tarde longa e difícil. Sentia uma estranha secura na boca, uma sensação esquisita de calor que me percorria o tórax no sentido ascendente, o diafragma parecia ter perdido elasticidade, o cérebro parecia ter dilatado e provocava zumbidos nos ouvidos e palpitações nos olhos… Não estava bem sentado, nem deitado, nem em pé; se me levantava senti vontade de me sentar, mal m sentava via-me impelido a levantar-me e com vontade de ir, sem destino até encontrar essa divinal musa.

Custou-me aguentar a tarde toda em casa. Eu não podia esperar… necessitava saber mais coisas sobre a minha “diva”.

Vi-me possuído por uma ansiedade insuportável, por uma necessidade incontrolável de fazer algo que aliviasse a comoção desesperante que me acometia o peito.

Tentei dormir mas não consegui. Tudo me parecia irritante, doloroso e fora do seu lugar… Assim passei essa infindável tarde de domingo, esperando que anoitecesse. Ao cair da tarde fui colocar-me de sentinela à entrada da casa do Xico. Decididamente, não sairia de lá sem saber tudo sobre a minha “diva”, nem que para tal tivesse de esperar toda a noite.

Lá fiquei, tempo infindo e num estado em que cada minuto parecia estender-se por várias horas, até que, finalmente, o Xico surgiu ao  alcance da vista.

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6 comentários:

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