domingo, 31 de maio de 2020

Se pudesse, o que alteraria na minha vida - II...

Amigo blog:

O meu dia amanheceu cedo e bastante entroviscado. 

Apesar do “cielo despejado” (como dizia o tio Juan), uma tempestade assolava-me o peito e a mente. Custa a conter a compostura quando temos de tolerar pessoas deprimentes, cujos actos conspurcaram e comprometeram muita coisa na nossa vida. Daquelas que não enxergam nada além dos seus interesses, julgando que nós só temos obrigações e elas só têm de direitos.

Deixo o assunto para outra ocasião porque me comprometi a responder a esta questão:
O que faria se tive o poder de mudar a minha história de vida - regressar ao tempo da minha juventude e alterar o curso da minha vida?

Devo prevenir algum incauto leitor (se alguém tiver estômago para ler este meu mal asado rascunho) de que não sou, de todo, um modelo de virtudes e não sirvo de exemplo para ninguém.
Nesse contexto, a minha resposta é complexa e difícil de entender. 

Hoje fico-me pelo intróito 

Bastava-me regressar a 1980. Se isso acontecesse, e eu tivesse poder para tal, alteraria tudo, definitivamente tudo, na minha vida.

Era eu, nesse então, um jovem extremamente tímido e com um acentuado complexo de inferioridade (ainda hoje sou assim… um simples comentário, gesto ou palavra, deixa-me de rastos, por dentro). Apesar de muito bom aluno, convenci-me que nunca seria nada na vida.

Persuadi-me que todos eram superiores a mim e que nunca teria aquilo que desejava: a profissão que eu gostava, as miúdas que me fascinavam, a vida que eu pretendia… sentia que nada disso estava ao meu alcance. 

Embora, nos meus tempos de estudante do secundário, eu fosse um dos alunos mais elogiados da escola (isso deixava-me mais diminuído e inseguro, com medo de falhar). Tive oportunidade de liderar projectos importantes no meio escolar, ganhei prémios, participei activamente em tudo o que de mais importante se realizava na escola (era, quase sempre, organizador ou convidado para organizar - desde publicações até à associação de estudantes, passando por festas, bailes, teatro, música, etc.), e isso levou a que eu tivesse uma visibilidade extremamente elevada (granjeando grande amizade e confiança – que ainda hoje dura) entre professores, funcionários e alunos de toda a escola), … etc. etc. Mesmo assim, sempre me achei o mais reles, simplório e rude entre todos. Mais do que “síndrome de patinho feio” achava-me um bicho peçonhento e repelente. 

Isso condicionou toda a minha existência. 

Piorou muito nos anos 80, em plena juventude, porque, na verdade, nunca tive uma pessoa que gostasse de mim (estou a falar de amor, paixão, namorada…). As miúdas só se aproximavam de mim por interesse: fosse pela ajuda de um bom aluno, fosse pela minha capacidade de organização, fosse pelo à-vontade com que me mexia dentro da escola, sobretudo pelo poder de influência que (estranhamente) tinha. Algumas aproximaram-se de mim, exclusivamente, para conquistar algum amigo meu. 

Todas a quem eu disse (ou dei a entender) que gostava, afastaram-se ou tornaram-se minhas inimigas. 

Curiosamente, algumas nunca mais falaram comigo. Tenho bem vincadas na memória histórias que, se as contasse, creio que ninguém acreditaria. 

No seguimento de tudo isto, a escola deixou de ser o meu habitat preferido. Em nada beneficiava de um “estatuto” elevado. Assim, nada me prendia à escola. Por mim, teria abandoando os estudos (hoje pergunto-me se essa não teria sido uma boa opção). Os meus pais opuseram-se sempre. Entre desatinos e desilusões, mudei de escola(s) e acabei por concluir o meu ensino secundário na Escola Gil Vicente, em Lisboa (longe de paixões, amizades e confusões, mas não sem algumas peripécias). 

Foi no meio desse mar revoltoso da minha juventude que um dia tive uma visão alucinante – fiquei possesso de um estranho encantamento por uma “princesa divinal”, uma musa impossível mas que mudou tudo na minha vida (o seu nome real é Isabel). 

Companheiro blog, fico por aqui…

Como bom católico, amanhã tenho de me levantar cedo. Quero ir à missa e ainda não conheço as regras que vigoram na paróquia que frequento (que não é a minha, claro!).

1 comentário:

  1. Revi-me em muito do que revelou. Ajuda saber que outros passaram pelo mesmo?

    Eu criei uma aversão a esse tipo de glorificação da criança inteligente e talentosa que "vai dar muito certo na vida".

    Esta não é feita só do aprendizado acadêmico. E se os adultos só se focarem nisso, estão a impedir a crianca de se conhecer a si mesmo noutros contextos. Tudo o que ela sabe é ser aquilo que esperam que ela seja, bem comportada, eficiente, trabalhadora. E quando apenas isso nao funciona como atractivo social, ela se pergunta porquê.

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