sábado, 27 de junho de 2020

Aquela infindável primeira noite "contigo"...

Blog: Não acreditarás se te disser como me tenho presente essa primeira noite.  
Continuando!…

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Fiquei, na minha humilde e simplória narrativa, no início da  noite desse inaudito dia de Verão dos anos oitenta, de cujo sucesso, evolução e implicações na minha vida, me propôs, aqui,  fazer uma íntegra e fidedigna exposição. 

Comprometo-me a ser fiel aos factos e verídico em tudo o que narrar. Pecarei, estou certo, por inabilidade e incapacidade de verter nesta prosa, de forma suficientemente clara e profunda, quer as minhas sensações, quer a descrição dos acontecimentos. Abreviando: sou um palerma sem jeito para as letras, com poucas capacidades e habilidades, mas sou (e tudo farei para ser sempre) honesto e rigoroso.
 ...
Caiu a noite, nesse dia de Junho, e eu recolhi ao meu cantinho privativo – o meu quarto. 
Possuído de um estranho misantropismo, embora quase houvesse esquecido tudo o que se passou, apetecia-me estar só. 

Nesse dia não liguei a televisão. Pelo contrário, fui acometido de uma vontade imensa de ouvir música em ambiente escuro. De luz apagada, auscultadores a tapar a totalidade do pavilhão auricular, fiquei tempo sem fim a degustar músicas calmas, ora eruditos temas clássicos, ora músicas românticas.

Adormeci a escutar o “28 degrés à l'ombre” de Jean-François Maurice.

Tão rápido embalei no sono como comecei a sonhar com aquela graciosa, ímpar, arrepiantemente divinal e enérgica figura, com a qual havia sofrido um choque, na tarde desse dia.  
Nos meus sonhos eu via, com uma precisão geométrica, aquela excepcional figura. Em simultâneo, eu revivia a sensação que me havia imobilizado nessa tarde. Ficava-me no peito um estranho sentimento, misto de espanto e encanto, de fascínio e nostalgia, de dor e alegria, de prazer e tristeza.

Esta situação repetiu-se várias vezes, a ponto de me deixar uma estranha dor no peito – uma dor corpórea que me espantou o sono.

Incapaz de dormir, não sei se sonhava ou se meditava, mas, invariavelmente, o tema era o mesmo – aquela miúda que me deixou estático, na “avenida” da urbe sede do meu concelho, onde, nesse dia eu fora, como tantos outros dias, ao encontro da minha turma.

Comecei, entretanto, a discorrer de forma mais lógica. Formulava questões e tentava encontrar a resposta.

Por que razão vivenciei tão estranha sensação?

Ainda hoje, tantos anos depois, questiono-me se alguém terá vivido igual acontecimento. Desconheço a resposta.

Quem seria ela? Qual seria o seu nome? Qual seria a sua idade?

Para estas questões eu não tinha resposta. Nem sequer me atrevia a formular suposições, a não ser o facto de achar que ela seria da minha idade – pura intuição.  

De onde seria? Porque razão nunca a tinha visto antes?

Bom, ela não frequentava a minha escola. Disso tinha absoluta certeza!

A minha escola era, nessa época, a única do concelho. Também não era provável que ela, sendo do meu concelho, estudasse noutra escola, sendo certo que a minha escola captava alunos dos concelhos vizinhos e não havia notícia do contrário.

Restavam algumas alternativas.

Primeira: ela podia não ser estudante. Nesse tempo a escolaridade obrigatória quedava-se pelo sexto ano de escolaridade (felizmente).

Segunda: ela podia estar no estrangeiro, ser filha de pais emigrantes. Isso explicaria, racionalmente, o facto de nunca a ter visto… afinal era tempo dos emigrantes regressarem de férias. Fazia sentido, mas ficava, igualmente, sem resposta para as questões mais importantes: Quem era? Como se chamava?

Ora sem sono, ora fazendo um esforço titânico para não adormecer, assim passei a noite.

Num misto de cansaço, de estranho sofrimento e de desilusão, acabei por imputar a mim próprio a responsabilidade por este meu estado.
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2 comentários:

  1. Não é um palerma com pouco jeito para as letras, nem tem poucas capacidades. Então eu que não dou nada para línguas o que seria? Nem penso nisso, faço o que posso e não acho que o faça totalmente mal. O mesmo deveria acontecer aqui por este lado.

    Acho que um dos problemas está em ter dirigido a si próprio todo o conflito porque estava a passar. Deixo-lhe uma questão que não é para me responder, mas somente para colocar a si próprio. Porque razão imputou a si toda a responsabilidade?
    A pergunta pode ser descabida, uma vez que não sei a continuidade e os contornos mas deixo-a mesmo assim.

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  2. Pois, permita-me confessar, sem qualquer favor ou hipocrisia, que gosto imenso da sua escrita.
    Bom, se tiver paciência e abnegação suficiente para acompanhar a minha "redacção", perceberá...

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