domingo, 28 de junho de 2020

O despertar e a mudança...

Caro Blog, reafirmo: move-me aqui o sentido de ser rigoroso e fiel na narrativa e nada preocupado com questões de riqueza, estética ou qualidade literária.

... Continuando ...

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Fiquei, na minha paupérrima exp
osição (isto parece uma redacção da escola primária) no final da noite desse assombroso dia de Verão e... citando o Livro dos Genesis: “Sobreveio a tarde e depois a manhã: foi o primeiro dia.”

Vencido pelo cansaço, acabei por adormecer já perto do romper da aurora.

Despertei, poucas horas volvidas, na manhã seguinte (- era o segundo dia -), com uma sensação estranhíssima de pequenez e inferioridade. Eu era o ente mais desprezível, inútil, rude, ignaro e miserável do universo. Em abono da verdade, creio que desse depreciativo julgamento e dessa medíocre impressão jamais me separei, ou seja, ainda hoje, quando me auto-avalio, não vou muito além dessa classificação (mas esse assunto não é aqui chamado à colação).

Mal despertei, retomei o meu raciocínio lógico (se algo pode existir de lógico que possa ser invocado em toda esta história) sobre a quase-celestial figura. Fiquei-me, depois de acordar, por uma terceira hipótese: a miúda podia estar de passagem, podia viver longe… quiçá fosse um mero golpe do acaso o facto de ela ter passado pela minha terra!

Penitenciava-me pelo delito imperdoável de nada saber sobre ela. Afinal a culpa era exclusivamente minha: eu podia ter reagido de outra forma; talvez segui-la… ou então, porque não, arranjar uma desculpa para falar com ela.

Sempre assumi, com frontalidade e responsabilidade, as minhas culpas e fraquezas. Aqui não seria diferente, por muito que isso magoasse.

Nesse mesmo dia mudei, integralmente, todos os meus hábitos e rotinas. Não voltei a reunir-me com a minha turma.

Até ao final da semana fichei-me em casa.

Foram uns dias difíceis. O meu cérebro estava permanentemente ocupado com este assunto, partilhando o tempo de processamento entre a minha culpa, a análise de uma breve sequência de imagens que eu podia dissecar, fotograma a fotograma, e a triste condenação da certeza de jamais voltar a ver aquela inebriante figura.

Neste lastimável estado permaneci até ao fim-de semana.

Para além da minha turma eu tinha um grupinho de amigo, muito restrito, muito cúmplice e solidamente unido.

Esse grupinho era constituído por quatro membros, direi melhor, éramos quatro subidos heróis de inauditas proezas e aventuras. Amigos desde criança – “filhos de mesma geração e da mesma sorte”, como nós usávamos dizer.

 Destes, só eu estudava. Os restantes haviam deixado a escola. Um ficou-se pela quarta classe; outro, nunca ligara nada à instrução e cumpriu “recrutamento obrigatório” do ensino mais vezes em caso do que na escola, quase não sabia escrever, lia soletreando e com uma fonética tão arrevesada que parecia estrangeiro; o terceiro, que era o mais malandro do grupinho, ficou pelo sexto ano de escolaridade. 

Este grupinho de aventuras, do qual preservo as melhores recordações e uma infinda saudade, apenas reunia (ordinariamente) ao fim-de-semana ou, de forma ad-hoc, quer em ocasiões festivas, quer para aventuras e malandrices.

Por vezes um dos elementos do grupo tresmalhava-se. Se partia de férias, se saía para casa de familiares, se tinha algum tipo de outra actividade que lhe ocupasse o fim-de-semana, faltava à chamada por um período de tempo razoável, sem prejuízo de manter todos os compromissos para “acções ad-hoc”, sempre que fosse “requisitado”.  

 Surpreendentemente, e contra todas as probabilidades, foi neste grupinho que se fez luz sobre aquela misteriosa e quase-divinal figura.

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2 comentários:

  1. SE tem baixa auto estima e sentimentos de inferioridade, permita-me que lhe sugira escolher um bom profissional e realizar psicanálise ( ou psicoterapia): foi das melhores decisões da minha vida!

    Tudo de bom

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  2. Obrigado pela visita e, mais ainda pelo comentário.
    Fico-lhe grato pela expressão da solidariedade traduzida neste comentário e a sua observação e, prezo muito saber que isso lhe tenha sido útil.
    Contudo, e infelizmente, a minha relação com esse tipo de actividades não é apenas de ineficácia e de incompatibilidade... é mais uma "relação tóxica".

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Bem-haja e felicidades!